sábado, 17 de janeiro de 2015

Interfaces de Busca na web: quais as áreas responsáveis pelo projeto?

Apresentação


Vou iniciar essa série de posts sobre Interfaces de busca abordando um dos aspectos mais críticos de seu desenvolvimento que é a entrega de um projeto dessa complexidade a uma única área da organização.

O texto a seguir se aplica a qualquer interface de busca. Pode ser uma biblioteca digital, uma loja de varejo online, um órgão público que presta serviços e assim por diante. São conceitos universais relacionados ao desenvolvimento e metodologias de desenvolvimento de interfaces de busca na web.

É comum vermos o desenvolvimento de sistemas de informação e sua interface de busca como sendo atribuído à área de Tecnologia da Informação. Esse é um equívoco muito comum nas organizações.  Algumas empresas possuem apenas área de TI e não veem necessidade de novos recursos técnicos, como por exemplo uma biblioteca. Porém, a eficácia de um projeto desse perfil depende da visão da informação, da tecnologia, do design de interação e do público-alvo e portanto de um comitê multidisciplinar capaz de entregar um ambiente com metodologia e funcionalidades que garantam o encontro da informação e não apenas e tão somente a operacionalização do sistema de busca.

A diferença entre a busca e a encontrabilidade (findability) é outro aspecto que precisa ser internalizado e perseguido em um projeto de interface de busca. Criar indicadores, monitorar seu público-alvo, elaborar pesquisas periódicas e implementar melhorias, são algumas das regras básicas.

Áreas envolvidas no desenvolvimento


A interface de busca é planejada para o usuário e portanto vou introduzir conceitos e metodologias de Usabilidade, Ux (experiência do usuário), Design de Interação (Design Thinking) e Ciência da Informação  para abordar o tema. Considero essas três áreas como complementares à Tecnologia da Informação, vista hoje na maioria das organizações como sendo responsável por seu desenvolvimento.

Usabilidade e Ux - Usabilidade segundo a ISO 9241-210 é a capacidade de um sistema em permitir que usuários específicos atinjam metas específicas com eficácia, eficiência e satisfação em contextos específicos de uso. Já Ux (User Experience), segundo a mesma norma são as percepções e respostas dos usuários resultantes do uso e/ou antecipação do uso de um produto, sistema ou serviço.

Muitos confundem, mas são conceitos bem diferentes. Um aspecto é você se preocupar com uma interface “usável” e outro aspecto é ter certeza que o usuário está tendo uma experiência boa ao utilizá-la além de um alto grau de encontrabilidade em sua busca. 

Portanto, medir e acompanhar essas métricas são parte importante do processo de desenvolvimento permanente. 

Design de InteraçãoA disciplina compreende as necessidades do usuário e produz conceitos, soluções e designs voltados para suas necessidades, baseado no comportamento humano, na psicologia e no estudo do comportamento do usuário diante da interface. 
Seu objetivo é bem diferente de um desenvolvedor, pois não envolve dominar códigos e fazer a interface funcionar do ponto de vista operacional. O design de uma interface de busca deve ser uma experiência agradável e a visão é o órgão dos sentidos mais importante a ser trabalhado nessa questão.
Empresas que se utilizam apenas da tecnologia, fazem a interface funcionar, mas muitas vezes não resolvem a necessidade de encontrar informação. Tudo funciona, mas nada funciona
.

Ciência da Informação - Bibliotecários são profissionais da área da Ciência da Informação e têm em sua formação alguns conceitos relevantes para justificar sua participação na equipe. Segundo Rosa e Moraes(4), a definição de um vocabulário de termos padronizados visando obter consistência ao longo do conteúdo e um mapa metafórico  objetivando a representação da sua estrutura, pouparia tempo do usuário se as interfaces tivessem elementos mais padronizados, pois facilitaria a utilização e o aprendizado. 
Descrever com qualidade seus recursos informacionais (qualquer que seja sua área, objeto de um registro), padronizar a entrada de dados, criar taxonomia de navegação, rotulação (nome) nos menus, organizar a informação digital, definir relatórios e formas de representar os resultados, são pilares da arquitetura da informação e podem ser definidos por bibliotecários especialistas na área que trazem consigo conceitos fortes da Biblioteconomia e Ciência da Informação sobre o tema deste post, pois são preparados para elaborar Thesaurus que é um nível mais sofisticado de vocabulário controlado com relacionamento entre termos.

Análise heurística


Conhecer análises heurísticas e adaptá-las à sua realidade é outra dica importante. O termo avaliação heurística foi introduzido no início da década de 90 por Jakob Nielsen e Rolf Molich.  “A avaliação heurística é um método de avaliação de usabilidade onde especialistas em usabilidade (inspetores) inspecionam as características da interface (especificações, protótipos ou o produto final) e analisam se elas vão contra as heurísticas“. 


O link acima é muito útil, pois apresenta as principais heurísticas de usabilidade e dentre elas a heurística de Rosenfeld sobre busca que destaca os seguintes itens a serem avaliados:

1.     Onde está localizada a busca no ambiente?
2.     O que será pesquisado?
3.     Como posso efetuar uma pesquisa?
4.     O que encontrei?
5.     Como posso encontrar mais resultados?
6.     A busca pode ser integrada com outros componentes da interface?
7.     O que posso fazer depois de concluir minha busca?

Veja mais detalhes sobre a heurística sobre busca.

Preece  et al. (3) propõem as seguintes metas de usabilidade:


Se você deseja aprofundar o tema, siga algumas das referências que indico. A dissertação de Liriane Camargo (1) é especialmente importante para os profissionais que atuam em projeto de bibliotecas digitais.

Próxima semana continuo o papo sobre Interfaces de busca! Vou deixar para mencionar exemplos um pouco mais adiante, pois o importante é desenvolver a visão crítica do leitor para avaliarmos algumas interfaces.

Comentem, sugiram, compartilhem! Vamos trocando ideias, pois há muito por fazer nesse campo de estudo.

REFERÊNCIAS



  1. CAMARGO, Liriane Soares de Araújo de. "Arquitetura da informação para biblioteca digital personalizável." (2012).
  2. CARLOS, Vela João, et al. "O ergodesign e a engenharia de usabilidade de interfaces. como facilitadores para o usuário na busca de informações." Blucher Design Proceedings1.4 (2014): 1782-1793.
  3. PREECE,  Jennifer; ROGERS, Yvonne;  SHARP, Helen.Design de interação: além da interação  homem- computador. Porto  Alegre:Bookman, 2007.
  4. ROSA, José Guimarães Santa; MORAES,Anamaria de. Avaliação de projetos no design de interfaces.Teresópolis:2AB, 2008.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Interfaces de busca na web: existe metodologia!?


​Interfaces de busca na web


Há muito venho querendo sistematizar meu conhecimento identificando o que já existe de doutrina e elaborando uma metodologia para análise e otimização de interfaces de busca na web. 

Desde o ano de 2000, quando meu tema de dissertação de mestrado foi a busca, me deparo com interfaces pobres constatando que há muito pouco link entre as disciplinas de Usabilidade, Arquitetura da Informação, Ciência da Informação e Tecnologia. Mesmo o Google, mestre da busca, no momento de apresentar sua busca avançada e o resultado de busca, peca em diversos aspectos relacionados à estratégia de busca e representação da informação.


Algoritmos - Onde o Google é muito melhor que os demais buscadores? 

O Google é muito melhor na inteligência de seus algoritmos e não na representação da informação.​
Seus algoritmos entendem que duas palavras próximas podem ser palavras compostas. Muitos buscadores não entendem e exigem a aspas para encontrar. Esse é apenas um exemplo, mas vamos explorar mais essas diferenças e descobrir, dentre muitas questões, como avaliar um motor de busca para seu ambiente digital.


Pois bem, esse post tem o objetivo de abrir essa frente de debate em meu blog e começarmos juntos a pensar o que poderia ser desenvolvido para tornar a busca uma experiência surpreendente para seu cliente​/internauta. 


Vamos juntos construir esse roteiro e mudar esse paradigma? Vamos nos conscientizar que sem uma interface ​de busca ​adequada não é possível acessar todo o esforço empenhado na descrição de recursos informacionais? Vamos identificar quem são os papas do assunto e introduzir uma palavra-chave desde já em nosso vocabulário?


Findability -  A arte de ENCONTRAR a informação!
"
What We Find Changes Who We Become" (O que encontramos nos modifica.)

Peter Morville, referência máxima em minha dissertação, escreveu um livro com esse tema e bate na tecla: Buscar NÃO é a mesma coisa que ENCONTRAR. Quando encontramos o que buscamos a sensação é mais ou menos igual (guardada as devidas proporções...rs) a encontrar a alma gêmea. Sentimos a emoção e é essa emoção que devemos perseguir para encantar e surpreender nosso cliente/internauta.



Vamos juntos percorrer essa série de posts que começam aqui e uma vez por semana irão evoluindo até descobrirmos e chegarmos em um roteiro que auxilie as bibliotecas digitais, os repositórios na web e as informações nas bases de dados a se transformarem em um caminho ao conhecimento! 

O que acontece quando encontramos a informação!
Conto com sua experiência, crítica, apoio e interesse!

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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O primeiro passo em direção à gestão do conhecimento.

Qual a cultura de sua organização?
Quando você ouve o termo Gestão do Conhecimento (GC), uma das primeiras impressões é achar que é mais uma onda que passou, ou é abstrato demais para chegar à prática das organizações. O fato é que GC não  deveria ser o nome de uma área ou cargo de uma pessoa. A prática está muito mais relacionada à cultura e aos processos organizacionais que ajudem a semear ideias e organizar ações, além de  juntar as peças do quebra-cabeça que é encontrar um documento ou informação.

As organizações, por mais que tenham Intranet, Portal ou práticas de compartilhamento, ainda são estanques e não se comunicam como deveriam. Vão criando seus processos departamentais sem se preocupar muito em disponibilizar seus registros para a organização como um todo.  Essa individualidade fica clara quando vemos a estrutura de documentos, a árvore da rede interna e muitas vezes o site da organização. A prática provoca aquele típico diagnóstico onde percebemos que a informação e/ou documentação depende de uma pessoa.  Pois bem, essa pode ser a semente para plantar a GC na organização.


Por onde começar?


Comece pequeno, mas comece grande. Como assim? Comece criando uma estrutura única, lógica, compartilhada, que transforme seu conhecimento em um verdadeiro mapa da mina, como um mapa do site. Quando você tem dificuldade em localizar uma informação em um site não recorre muitas vezes ao mapa do site? Pois é exatamente o mesmo recurso. A Taxonomia, que é a estrutura hierárquica e lógica de seus documentos e informações, deve ser um mapa da organização pelo qual você irá navegar e clicar no tema que deseja encontrar.
Se a lógica será cronológica, alfabética, por relevância etc, vai depender mais do tipo de informação que estará sendo organizada. É possível ter uma estrutura lógica única de primeiro nível e criar a lógica adequada para cada sub nível. Exemplo: A pasta de Projetos pode ser em ordem alfabética por clientes e a pasta de pagamentos efetuados pode ser em ordem cronológico de data de pagamento.

Qual é a lógica de sua organização?


Como é o seu ambiente informacional? Você consegue desenhá-lo?
Segundo Samuel Wurman, arquiteto que cunhou o termo “arquitetura da informação”, a organização da informação pode ser  exata ou ambígua. No caso de ser exata temos as opções: alfabética, cronológica, geográfica, numérica. No caso de ser ambígua temos: temas, tópicos, tarefas, audiência, metáfora e híbrida, podendo ainda surgir outras conforme a lógica que a situação exige. 
Essas decisões normalmente são validadas com o responsável pelo projeto,  implementadas e documentadas para posterior manutenção da estrutura criada. 
Esse é um primeiro passo para poder respirar aliviado e ver que todos falam a mesma língua, que ninguém cria um diretório ou pasta sem uma governança, que não existem diretórios na rede com nome de pessoas, que não existem pastas com nomes impossíveis de se saber o que está armazenado nelas e que as múltiplas versões de um documento não se chamam “versão final mesmo”.

Quem deve plantar essa semente?


Essa estrutura deve ser criada por um profissional que tenha visão sistêmica, que seja da área de gestão da informação e que domine estruturas semânticas e vocabulário controlado. Por quê? Porque criar rótulos para pastas, nomes que remetam a seu conteúdo e definir a lógica dessa estrutura não é uma tarefa simples e exige conceitos e criação de manual de procedimentos além de capacitação e governança. Parece complicado, mas não é nem complicado e nem demorado e a gestão do conhecimento organizacional começa quando os colaboradores começam a encontrar informação e conversar na mesma língua. Para se ter uma ideia, em uma organização ou departamento onde atuam cerca de 10 pessoas deve levar por volta de 30 a 40 dias o processo de criar e validar uma estrutura única para qual os documentos possam ser migrados.


Algumas etapas


A partir dessa primeira etapa, a preocupação passa a ser a nomenclatura dos documentos, sua tipologia, seu ciclo de vida, suas versões e a permissão de acesso. Nesse momento  o projeto começa a ficar interessante, pois sem ferramenta e sem uma tecnologia de gerenciamento eletrônico de documentos torna-se uma tarefa árdua, mas não impossível, implantar padrões e nomenclatura no momento de criar ou digitalizar um documento.


O que é mesmo Taxonomia Corporativa?


Exemplo de estrutura hierárquica
Com o surgimento das Intranets, por volta de 1996 e sua consolidação no mercado por volta de 2002, o mercado passou a chamar esse mapa de Taxonomia Corporativa e o termo, emprestado da Biologia, pegou, pois significa a construção de uma estrutura lógica e hierárquica. Então, como um primeiro passo pode se considerar um esforço louvável da organização em começar por encontrar sua lógica organizacional. 


Concluindo, Gestão do Conhecimento são processos permanentes, duradouros que modificam o DNA de uma organização e alteram sua cultura, portanto um projeto amplo, implantando diversas práticas e sistemas de informação realmente não é ideal para todas as organizações, mas um mapa de documentos com uma estrutura única e padronizada deve ser o mínimo em uma organização que deseja ganhar produtividade, eliminar o retrabalho, compartilhar informação e ter um controle de revisão de documentos. Exercitar essa proposta pode ser o
 primeiro passo em direção à gestão do conhecimento em sua organização. 

domingo, 25 de maio de 2014

Web (-) 2.0: a colaboração sumiu nas redes sociais!? Responda por favor!


 

Colaboração!?

Web negativa? Web (-) 2.0? Como assim? Este post aborda as práticas de colaboração e não-colaboração nas redes sociais do ponto de vista de minha experiência.  Transito por um universo bastante amplo em várias redes, grupos e perfis pessoais e meu foco profissional é em ambientes de gestão e tecnologia. Então a pergunta que me fiz e divido com vocês é: você está conseguindo surfar na onda da colaboração?


Na época em que surgiu a expressão colaboração como sinônimo de Web 2.0, por volta de 2003, explodiram canais com possibilidade de rankear, favoritar, comentar e compartilhar conteúdos. A socialização prometia ser uma experiência única em termos de troca em um ambiente digital.


Com a proliferação e pulverização de canais de comunicação e redes sociais, muitos espaços surgiram com a mesma linha editorial, a mesmice aumentou muito e o tempo, que desde o surgimento da Internet, começou a ser administrado de outra forma, passou a ser escasso e portanto veio a sensação de estar passando mais rápido. 


Tenho observado que cada vez menos as pessoas leem um post ou assistem um video postado em sua redei e mesmo assim curtem por conta de um "pacto social". Ou seja, me curta que eu te curto. Tipo, “passei por aqui”. Há uma moeda invisível na Internet, uma troca de favores interessante com a intenção de se tornar mais popular.


Mas qual é o indicador de sucesso de uma página no Facebook, no Linkedin, em um blog ou Twitter? Sabe-se que os likes não são um indicador confiável, podem ser comprados, mas é difícil comprar comentários (pelo menos por enquanto). Mas só comentários do tipo “gostei muito!” é colaboração?

 
Você colabora de fato nas redes sociais?
O compartilhamento já é um grau acima do like, pois mostra um envolvimento, uma identificação e uma chance muito maior de ser visto ou lido e mais que isso, prova, ou pelo menos aumentam as chances de que a pessoa de fato leu o que você postou. Mas compartilhamento não é colaboração.


Colaboração vemos muito pouco. A exceção fica por conta de espaços mais focados, páginas fechadas de grupos e conteúdos mais centrados. Existem muitos blogs e páginas bombando de comentários, mas não é a média e mesmo assim fica a pergunta: qual a diferença entre comentar e colaborar? A colaboração se dá quando o comentário enriquece o assunto, fomenta o debate, aumenta a informação e gera mais conhecimento. Um Wiki é um bom exemplo. Não há wiki sem colaboração e o exemplo máximo é a Wikipédia, mas existem muitos projetos sociais no Brasil utilizando wikis maravilhosos!


Pesquisando na Internet não encontrei nenhum indicador sobre comentários em redes sociais. Difícil, não? Haja inteligência artificial e web semântica para detectar se um post colabora ou apenas parabeniza, critíca o post ou simplesmente comenta algo.


Responda por favor!


Curtir não é uma característica da web 2.0. Curtir é algo que fazemos há muito tempo. Se formos nos basear pelas páginas mais curtidas do Facebool no Brasil segundo fonte da Tecnomundo a top page é da Guaraná Antarctica com 15.938 milhões de likes. E daí, dizem os conteudistas na web. Fujam dos likes, não se prendam a eles, quantidade de curtidas não é sinônimo de sucesso. Sinônimo de sucesso é a capacidade que uma empresa tem de se reinventar a partir da colaboração de seus seguidores.


Então observamos que muitos textos bacanas, muitos post de perfis públicos ficam à deriva. Sem comentários, muitas vezes sem like e o que é pior, sem resposta! Por diversas vezes fiz comentários em páginas do Facebook e não recebi resposta. Muitos usam a rede social como uma mão de via única. Publicam, disseminam, torcem para que viralize, mas não sustentam a página e não interagem com seu público. Mesmo figuras públicas que certamente contratam alguém para publicar conteúdo, não respondem aos comentários e deixam o seguidor falando sozinho, ou os seguidores falando entre eles sem moderação.

Linkedin


Nos grupos do Linkedin existe uma peculiaridade, como tem a figura do moderador, ele pode ou não deixar as postagens abertas e muitas vezes não tem tempo de moderar. O que ocorre nessa situação é o aumento de SPAM sem controle e muitas vezes o autor do SPAM torna-se o principal conteudista com direito a destaque com foto, pois supostamente ele foi quem mais comentou no grupo.

Não existem indicadores de qualificação de comentários. Um agradecimento, um pedido ou um OK, não são necessariamente comentários. Ou seja, o que questiono, e por isso deixo (-) 2.0 no título, é o que existe de fato na Web 2.0? Muita oportunidade de se adquirir informação e internalizar conhecimento, mas pouquíssima governança e/ou cultura por parte do usuário para de fato extrair o melhor desse face to face (olha o trocadilho..rs).

Portanto, curtir, comentar, compartilhar e colaborar são ações distintas e devem ser perseguidas conforme a estratégia de cada empresa. Mas nunca deixe de responder, pois esse é um cuidado essencial para criar a via de mão de mão dupla.


Qual a sua experiência sobre esse tema?

domingo, 18 de maio de 2014

Tecnologias para a Gestão Documental dependem do tempero.

Sobre o tempero


Nicholas Carr é um escritor americano polêmico e crítico sobre o universo da Internet e questiona a tecnologia em praticamente todos os seus textos. O considero uma referência importante para o fenômeno da apologia à tecnologia que existe no Brasil. Gosto muito de suas provocações que me fazem pensar “out of the box” e ver de forma crítica as soluções tecnológicas e os investimentos nessa área nas organizações.

Muitos projetos fracassam porque organizações depositam o sucesso do projeto na tecnologia, por ela ser consagrada ou por ter sido implantada em determinada organização ou porque existem diversos cases de sucesso ou mesmo porque o concorrente a adotou. Não pensam na informação a ser tratada, em suas necessidades estratégicas e no custo total do projeto. Acreditam que uma customização básica e um suporte na instalação serão suficientes para extrair todos os seus benefícios. 


Em seu artigo clássico, “A TI já não importa”, Carr* faz algumas analogias impactantes e trata a TI como uma commodity, destacando o tempero da salada como sendo o diferencial do prato. Faz duras críticas a essa visão que existe da TI nas empresas e provoca muitas discussões que reverberam até hoje. 

Comparando o estilo do autor com os diversos artigos que leio da área de TI, observo que muitos autores continuam destacando a TI como a solução para o caos informacional nas organizações sem abordar o tratamento da informação necessário para a obtenção de resultados eficazes.

É muito comum ouvir a frase: “não existe gestão documental sem TI”, mas afirmo que o inverso também é verdadeiro.
Impossível obter resultados sem tratar a informação.

Não existe uma verdade única. Existe a melhor solução para cada ambiente organizacional, respeitando-se sua cultura e sua missão. Ou seja, o tempero será o diferencial na arquitetura corporativa e não a TI em si. O que percebo que falta é incluir o tratamento da informação na solução corporativa.

Não me agrada pensar em soluções padrão de mercado para o caos informacional. Decidir sobre essa ou aquela tecnologia porque o concorrente a elegeu ou porque ela é líder de mercado ou por estar no quadrante mágico do Gartner.

Cuidado, você pode ter concorrentes com estratégias diferenciadas e nesse caso a informação tem de ser tratada de forma diferente. Portanto, a visão sistêmica, a personalização em um projeto de gestão documental com resultados que apóiem a tomada de decisão, são fatores críticos de sucesso.

Não adianta ter um GED (Gerenciamento Eletrônico de Documentos), um ECM (Enterprise Content Management), ou apenas uma rede com pastas nomeadas aleatoriamente se não houver metodologia, técnicas, padrão, governança sobre a informação e principalmente clareza sobre o que se deseja obter como resultado.

Um documento, em qualquer suporte, registra uma informação que deve ser tratada com rigor na organização e na gestão documental. A tecnologia por si só não resolve essa questão e Carr já falava disso em seu artigo de 2003.

A receita


Fazendo uma analogia ao artigo de Carr, o tempero à tecnologia seria o tratamento da informação contida em documentos. E como temperar o tratamento da informação? Lá vai a receita: coloque 1 colher de sopa de formatos-padrão de metadados, 1 xícara de chá de controle de vocabulário, 2 pitadas de rigor semântico nos termos, uma boa dose de capricho na interface de busca com busca avançada, mexa com uma ferramenta de busca robusta e uma taxonomia na cobertura. Leve ao forno e experimente antes de apagá-lo para validar os resultados que você esperava. Na equipe de cozinha tem que ter pelo menos um profissional de TI e outro de Ciência da Informação. Caso contrário a receita ficará sem tempero.

Claro que uma receita é um conhecimento tácito e não explícito, pois quando falo de uma pitado, um bocado, ou ferramenta robusta, são ingredientes sem muita precisão, mas essa é a missão da equipe: ajustar a receita para que ela fique no ponto.

Não fique assim. Tempere sua TI!
Tanto a TI quanto a gestão documental são meios de se conquistar um objetivo. Um projeto que envolva seleção de tecnologias para a gestão documental tem de partir do dado, chegar na informação, gerar conhecimento e conquistar resultados.

Caso queira conhecer mais sobre o autor, vejam seu blog.

* CARR, Nicholas G. TI já não importa. Rev. Harvard Business Review Basil , p. 03 a 10,Maio.2003.


sábado, 30 de novembro de 2013

Canvas: ferramenta estratégica com DNA 2.0

Quem não precisa criar ou repensar seu modelo pessoal ou de negócios? Precisamos de estratégia para tudo e se estiver buscando um modelo simples para discutir com seus pares e simular possibilidades, experimente o Canvas.

A construção da metodologia Canvas é resultado de anos de pesquisa liderada por  Alexander Osterwalder e cocriada com cerca de 500 autores que pagaram para participar de sua elaboração. O modelo participativo e colaborativo está no DNA da metodologia, que por sinal  é gratuita e não pode ser cobrada. É possível dar cursos e consultoria, mas o acesso ao passo a passo é livre. O resultado desse trabalho é o livro Business Model Generation.

Por ser uma ferramenta estratégica e empresarial inserida na proposta 2.0 de cocriação e compartilhamento, vem se tornando uma febre entre os empreendedores e disseminada pelo Sebrae para que eles criem ou repensem seus modelos de negócios.

Também para Bibliotecas


O modelo pode ser utilizado para qualquer área ou organização que necessite de planejamento estratégico como por exemplo Bibliotecas, Unidades de Informação, Centros de Documentação, Arquivos, Museus etc.

Se buscarem por Sebrae e Canvas na Web, irão encontrar vários caminhos para baixar e cocriar o seu modelo de negócio.

A metodologia Canvas Business Model, é um tipo de quadro que permite descrever, desenhar, desafiar e inventar o seu modelo de negócios. O quadro é separado em nove blocos integrados e é possível ver numa folha de papel como a empresa funciona. É prático, simples e eficiente. Assista a entrevista com o consultor Marcelo Pimenta, que exercitou ao vivo a construção do Canvas do Programa Alma do Negócio - a partir de algumas perguntas estratégicas. 

                                                           Exemplo de um Canvas dividido em 9 blocos
Os nove blocos trazem diversas perguntas não muito fáceis de serem respondidas, mas é justamente esse o segredo da metodologia. Não deixar passar nada. Existe uma tendência nas pessoas a sempre deixar de lado o que é mais difícil ou não enxergar algo extremamente estratégico. 


Um exemplo é a diferença entre um recurso e um parceiro estratégico. Se o que você necessita independe da empresa que fornece, pois é tipo "Arroz Tio João", o arroz será um recurso. Mas se você precisa de um arroz integral diferenciado para um prato especial, o teu parceiro/fornecedor será estratégico. 

Os 9 blocos do modelo


Essa visão fica clara ao aplicar o modelo.Nesse caso os blocos ajudam, pois são integrados e se resumem (em uma tradução livre) em:


Quais são seus stakeholders
Qual a sua proposta de valor

Quais são os canais

Qual o tipo de relacionamento com o cliente
Como seu negócio gera valor
Quais os recursos exigidos
Quais as principais atividades para operacionalizar o negócio
Como está definida a rede de fornecedores
Quanto custo operar todo o negócio

Uma dica é o uso de post it como na imagem, pois é possível construir e descontruir seu modelo.

Bem, com tantas perguntas claro que o modelo se mostra mais complexo, mas é na forma de enxergar e responder as perguntas que está a simplicidade. Não é por menos que grandes empresas adotam o modelo Canvas. É o complexo transformado em simples e esse vídeo de 2 minutos mostra isso.

Se você gostou e quiser saber mais, segue o site http://www.businessmodelgeneration.com/




domingo, 24 de novembro de 2013

Se o Dado é o rei, quem é a rainha?

Meu post desta semana estava quase pronto quando abri um parênteses e fui a um bate-papo sobre web semântica com o prof.Marcos Mucheroni, da USP (1). O prof. Mucheroni é da área da Ciência da Computação e docente na Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.

Em função da ótima discussão na mesa de um café, não cheguei a alterar o título do post, mas enriqueci o tema com o conteúdo da conversa que criei na nuvem de tag a seguir.
  
 VIAF        DBPedia              Web 3.0     RDF          XML


LOD (Linking Open Data)   Datalização     


Selfie                                           ONIX             

                 Web semântica                           SPARQL
                  


Antecipando a resposta do título do post, a rainha é a busca e a busca caminha a passos largos em direção à Web Semântica que já vem sendo reconhecida como sendo a Web​ 3.0 com várias iniciativas bastante amadurecidas.

Mas, onde se concentra a complexidade da busca?

O segredo dos algoritmos


A busca está se transformando e será a protagonista da web semântica, conceito surgido em 1994, e vem unindo a informação a partir dos atributos que a definem. Os dados na Web serão totalmente estruturados e assim a tecnologia contribuirá criando os links e enriquecendo a experiência de busca em relação à quantidade e qualidade de resultados obtidos. 

O dado é o  elemento que acompanhará e descreverá o objeto de pesquisa e portanto a qualidade do dado é fundamental, mas a busca tem de ser igualmente inteligente e de seu resultado dependem uma interface de busca bem planejada e alinhada com a entrada de dados e os algoritmos utilizados que contribuirão com a inteligência do resultado. 

Veja o que acontece com o Google quando se pesquisa uma organização e ele traz em primeiro resultado o site da instituição. Isso é inteligência aplicada à busca. Os algoritmos determinam a ordem de resultados e por isso a lógica do resultado da busca do Google é um mistério. O que determina a sequência de resultados que ele oferece na primeira página e que faz com que a grande maioria não chegue na segunda página de resultado fazem parte da inteligência de seus algoritmos.

No mundo binário de 0 e 1, um algoritmo é uma sequência lógica, finita e definida de instruções que executam uma tarefa, como uma busca. A performance da busca depende basicamente dos algoritmos e esse é o grande diferencial do Google. É como o segredo da Coca-cola. Todos querem ter a fórmula. 

Por que a experiência no Google é sempre prazerosa? Porque o Google passa noite e dia alterando e sofisticando seus algoritmos para termos cada vez mais a sensação de que o sistema nos conhece e irá nos propiciar uma experiência única.

Quem conhece a história do Facebook e assistiu o filme "A Rede Social", sabe que a briga de Mark   Zuckerberg  com seus rivais foi e torno de algoritmos e são eles que modificam todos os dias nossa experiência na Web.


O momento da busca


Eu diria que saindo do Google e indo pesquisar em fontes de informação governamentais, portais de conteúdo e sistemas de informação proprietários, nossa experiência com a busca ainda é muito primitiva. Não evoluímos sequer para a busca 2.0. A grande maioria das interfaces de busca é incompleta, com baixa usabilidade, baixa valorização de conteúdos com descrição pobre de objetos e recursos informacionais.

Encontrar a informação desejada em um sistema de informação depende de alguns fatores que devem estar necessariamente reunidos: uma interface de busca inteligente, dados qualificados e suficientes, ferramenta de busca com algoritmos inteligentes e resultado de busca com possibilidade de ordenação e refinamento (busca sobre busca).

Fuja da busca cega! O que não pode deixar de ter em uma interface de busca:

  • algoritmos inteligentes (teste a busca e avalie seu resultado)
  • ajuda /exemplos (sempre!!)
  • índices (sugestão de autor, titulo, assunto)
  • pesquisa avançada (combinações mais sofisticadas)
  • filtro e refinamento (reduz e qualifica universo a ser buscado)
  • possibilidade de salvar pesquisas (ter pequisas prontas)
  • módulo para vocabulário controlado (permite criar termos relacionados, Contribui com a busca semântica)
  • possibilidade de alterar a forma de visualização de resultados (por data, por ordem alfabética, por asssunto...)
  • possibilidade de rankear o resultado (o voto é um indicador de preferência)
  • comentários (enriquecem o registro)
  • Adicionar tags (a folksonomia é a possibilidade de o usuário adicionar seus termos ao registro encontrado, criando significado para o resultado encontrado)


E a busca na Web 3.0?


Acabo de ler um post de Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, que exemplifica bem uma aplicação da Web Semântica.

Diz Janine Ribeiro: "Esta sexta compartilhei um link que, brincando com a peça de Nelson Rodrigues, dizia que toda nudez será, não castigada, mas instigada. Quando me levantei, estava deletado, com uma mensagem do Face. Claro que fiquei chocado com o falso moralismo desses senhores..."

Esse episódio exemplifica bem a confusão que pode ocorrer se o termo não for contextualizado. Se o Facebook tivesse uma ferramenta para cruzar a palavra Nudez com outros termos do post como Nelson Rodrigues ou o próprio autor do post, perceberia que o termo Nudez estava contextualizado a outro sentido e não tinha nenhuma conotação pornográfica. É exatamente isso que a Web Semântica pretende fazer. Quando você pesquisar Nudez deverá selecionar em qual contexto deseja obter os resultados e eles serão refinados de acordo com o seu perfil. Agora, o Facebook deletar o post apenas pelo fato de conter palavras supostamente pornográficas revela a distância que ele ainda está da Web 3.0.

Os termos que coloquei na nuvem de tag acima representam minimamente os assuntos que já estão em pauta no W3C (2) e no universo das bibliotecas em relação a padrões. Padrão é a palavra-chave do momento para perseguir o objetivo da busca semântica. É preciso muita mobilização, muitas convergências de interesses institucionais de todos os setores e muito trabalho de infraestrutura para que a nudez não seja castigada como no post do professor.

Para aqueles que quiserem conhecer um pouco mais a fundo sobre as iniciativas na Web 3.0:

VIAF -Virtual International Authority File, uma iniciativa da OCLC (3) para padronizar mundialmente as entradas de autoria em registros de bibliotecas. 


BBPedia - Projeto que pretende extrair conteúdo estruturado das informações da Wikipédia. A DBpédia é um dos exemplos mais famosos da iniciativa Linking Open Data (LOD) - ou Ligando Dados Abertos, - projeto relacionado aos princípios da Web Semântica.

W3C Brasil - Consórcio mundial sobre a Web que vem criando os padrões da Web Semântica que impactarão na busca muito em breve. Acompanhe a página do W3C Brasil sobre o assunto.

Peter Morville, já dizia no subtítulo de seu livro de 2005, "Ambient Findability: What We Find Changes Who We Become"....o que encontramos nos transforma (tradução livre).

Seremos muito impactados e a sociedade da informação se transformará mais uma vez com a chegada da web semântica, pois a qualidade e quantidade do que recuperaremos será infinitamente maior e mais pertinente. Como processaremos, como filtraremos, como leremos e o que faremos com tanta informação fica como perguntas para um dia respondermos.

Parodiando as tirinhas do Facebook : O que queremos? Web Semântica! Quando queremos: Agora!! Como queremos? Não sabemos! 

(1)  O encontro foi idealizado por Claudia Chamas, idealizadora e moderadora do grupo Gestão Documental e Serviços de Organização de Arquivos e Acervos 
(2) W3C - página oficial do W3C Mundial
(3) OCLC - Cooperativa mundia de Bibliotecas


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