A
não linearidade dos textos digitais proporcionada pelos hiperlinks produz uma
experiência inédita na leitura e exige do leitor uma capacidade de foco e perfil
de curador digital para conseguir filtrar conteúdos que se distanciem da
superficialidade.
Lucia
Santaella em seu livro “Cultura e Artes do Pós-Humano” (1), diz: "A velocidade digital cega-nos (Holtzmam
1997:169). Com uma tal rapidez de acesso é tão fácil saltar de uma página para
a outra, quanto da primeira para a última(...). Em menos de um piscar de
olhos, pode saltar-se de Platão para a salsicha, como diz
Umberto Eco."
De fato, muitos leitores só conseguem
enxergar a salsicha e acham que as redes sociais param por aí. Outros enxergam
mais longe e conseguem se aprofundar em poemas do inicio de século XIX de Mário
de Sá-Carneiro, passeiam por museus virtuais, leem obras raras em bibliotecas
virtuais e alimentam-se de muitas informações valiosas além de construir novos
amigos em relações que saem do computador e vão para uma mesa de bar ou até
mesmo para uma lua de mel. Não são poucos os casos de casais que se conheceram
nas redes sociais.
Motivos não faltam para amar Platão e
odiar salsichas. Ao mesmo tempo em que estamos vivendo como se estivéssemos em
uma UTI, completamente dependentes de aparelhos a nossa volta, ainda há pessoas
que resistem ao computador e às redes sociais. Muitos acreditam que é
"tudo besteira" ou uma perda enorme de tempo.
Por ser exageradamente plugada e
tecnológica, claro que sou suspeita ao falar, mas vou contar um episódio que me
aconteceu e descrever um pouco como eu uso as redes sociais.
Há 3 anos quando estive de
férias visitando minha mãe acessei várias vezes o Skype do computador dela. Com
72 anos na época, ela me abordou preocupada com a sua conta telefônica. Mas
como você está falando e não está gastando nada, disse quando eu respondi para
não se preocupar. Estou usando o Skype, você não conhece? Pronto, foi o momento
certo para eu ensiná-la a usar e alguns dias depois ela já tinha achado o irmão e a irmã que não
via por foto há mais de 10 anos. Não precisa dizer que hoje ela não desgruda do
Skype e a família está toda conectada. Às vezes esperar o momento certo e com
jeitinho, sem que a pessoa perceba, você consegue quebrar uma barreira enorme.
No mínimo me intriga quando alguém
jovem diz que o Facebook é uma perda de tempo, o Twitter nem pensar ou não ter
sequer um nickname no skype e o currículo no Linkedin.
No caso do Twitter pode ser uma
salsicha para muitos, mas gosto de contar o uso que faço dele, pois talvez o
seu sucesso passe a fazer sentido. Não uso o twitter como forma de buscar
pessoas que me sigam e sim como forma de seguir pessoas interessantes e
descobrir quantas pessoas mais interessantes ainda ela segue para que eu possa
segui-las também. Com isso, chego a Buda ou algum guru dos gurus. É a
teoria dos 6 graus de separação. Basta fazer uma boa curadoria digital e
selecionar perfis com conteúdos relevantes que isso garantirá uma aceleração
enorme em sua curva de aprendizagem coletiva. Temos grandes twitteiros e o Twitter
promete crescer muito, pois acaba de abrir seu capital na bolsa de valores.
Você conhecem os contos de fada
twitterianos (até 140 caracteres) no Youpix?
Cinderela – Moçoila chega ao baile na beca. Só que à meia noite rola uma parada estranha: seus cavalos
viram ratos e a carruagem, uma abóbora. Sinistro.
Pois é...essa foi uma brincadeirinha
só para descontrair e explicar de um jeito bem humorado como são os textos do
Twitter. Existem os platões, mas também existem as salsichas. Aprenda a fugir delas.
Veja na imagem abaixo um exemplo de quem eu sigo. O cientista Silvio Meira tem 163.201 seguidores
e com um clique eu posso selecionar quem eu quero seguir também. Reparem nos
Seguidores do Silvio Meira e no botão de Seguir. Basta clicar e os
posts desses seguidores aparecerão em meu mural. Silvio Meira escreve
muito e é uma fonte de informação primária, mas também bebe de várias outras
fontes, pois reparem que ele já twittou 8.447 posts.
No twitter não é necessária a aprovação prévia para ser seguido. O fato de estar no Twitter já caracteriza esse desejo.
A frase de Umberto Eco lembrou-me do sociólogo Zygmunt Bauman que em uma entrevista recente ironizou a frase de um amigo que dizia ter 500 amigos no Facebook. Como pode alguém ter tantos amigos, questionou Bauman. Não seria possível dar conta de tantas relações....
No Facebook gosto de curtir várias páginas e acompanhar os feeds de páginas
que me mostram tudo que essas páginas publicaram. E claro, gosto muito de
publicar conteúdos interessantes para os amigos reais e virtuais que tenho por
lá.
Quando alguém me diz que o Facebook
é uma perda de tempo, claro que concordo, mas é possível desviar das besteiras
bloqueando as pessoas, não aceitando como amigo ou mesmo apenas lendo os feeds
de páginas que você curtiu. Não é preciso ter amigos no Facebook, basta ter
interesses e buscar os grupos e páginas com os quais você se identifica.
Selecionando amigos e buscando conteúdos relevantes você descobrirá um outro
Facebook.
Outro recurso que adoro é o Feedly,
que utilizo como meu leitor de notícias. Tudo que me interessa crio uma
categoria e salvo no Feedly. Assim, leio “meu jornal” todos os dias. Não
preciso ir de site em site. Isso é ótimo e traz um ganho de produtividade
enorme. Ensino essa prática em uma Oficina de um dia que ofereço ao mercado e
está divulgada no site da empresa.
O que faz com que alguns encontrem
conteúdos sobre Platão e outros fiquem na salsicha? De fato existem aqueles que
não estão procurando desenvolver seu conhecimento e sim se divertir um pouco. Aqueles
que são céticos em relação às redes sociais, não chegarão em meu post e
não estão nesse mundo de possibilidades através da aprendizagem coletiva.
O mundo presencial leva ao virtual e
o virtual nos leva de volta ao presencial. Esse deveria ser o equilíbrio
desejado hoje, mas muitos não saem do presencial e muitos só ficam no virtual,
criando extremos que distorcem a realidade. Sim, a realidade está também
no mundo virtual. Mas é preciso escolher entre Platão e salsicha e isso não é
muito fácil e nem intuitivo. Requer cultura digital, conhecimento sobre fontes
de informação, discernimento para lidar com os perfis falsos e notícias falsas,
além de desenvolver um código de ética sobre como se comportar, o que postar e
como configurar sua privacidade nesse ambiente.
Como isso ninguém nos ensina, somos obrigados a conviver num mundo de distorções,
exageros, ameaças e futilidade, mas querendo aprender mais sempre terá alguém
por perto pronto para te ajudar. O que não dá para fazer é transformar as
salsichas em desculpa e se alienar diante de tantas possibilidades.
Aguardo seus comentários para evoluirmos a discussão!
(1) SANTAELLA, Lucia. Culturas e Artes do Pós-humano. Da Cultura das Mídias à Cibercultura.
São Paulo, Paulus, 2003.
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