sábado, 30 de novembro de 2013

Canvas: ferramenta estratégica com DNA 2.0

Quem não precisa criar ou repensar seu modelo pessoal ou de negócios? Precisamos de estratégia para tudo e se estiver buscando um modelo simples para discutir com seus pares e simular possibilidades, experimente o Canvas.

A construção da metodologia Canvas é resultado de anos de pesquisa liderada por  Alexander Osterwalder e cocriada com cerca de 500 autores que pagaram para participar de sua elaboração. O modelo participativo e colaborativo está no DNA da metodologia, que por sinal  é gratuita e não pode ser cobrada. É possível dar cursos e consultoria, mas o acesso ao passo a passo é livre. O resultado desse trabalho é o livro Business Model Generation.

Por ser uma ferramenta estratégica e empresarial inserida na proposta 2.0 de cocriação e compartilhamento, vem se tornando uma febre entre os empreendedores e disseminada pelo Sebrae para que eles criem ou repensem seus modelos de negócios.

Também para Bibliotecas


O modelo pode ser utilizado para qualquer área ou organização que necessite de planejamento estratégico como por exemplo Bibliotecas, Unidades de Informação, Centros de Documentação, Arquivos, Museus etc.

Se buscarem por Sebrae e Canvas na Web, irão encontrar vários caminhos para baixar e cocriar o seu modelo de negócio.

A metodologia Canvas Business Model, é um tipo de quadro que permite descrever, desenhar, desafiar e inventar o seu modelo de negócios. O quadro é separado em nove blocos integrados e é possível ver numa folha de papel como a empresa funciona. É prático, simples e eficiente. Assista a entrevista com o consultor Marcelo Pimenta, que exercitou ao vivo a construção do Canvas do Programa Alma do Negócio - a partir de algumas perguntas estratégicas. 

                                                           Exemplo de um Canvas dividido em 9 blocos
Os nove blocos trazem diversas perguntas não muito fáceis de serem respondidas, mas é justamente esse o segredo da metodologia. Não deixar passar nada. Existe uma tendência nas pessoas a sempre deixar de lado o que é mais difícil ou não enxergar algo extremamente estratégico. 


Um exemplo é a diferença entre um recurso e um parceiro estratégico. Se o que você necessita independe da empresa que fornece, pois é tipo "Arroz Tio João", o arroz será um recurso. Mas se você precisa de um arroz integral diferenciado para um prato especial, o teu parceiro/fornecedor será estratégico. 

Os 9 blocos do modelo


Essa visão fica clara ao aplicar o modelo.Nesse caso os blocos ajudam, pois são integrados e se resumem (em uma tradução livre) em:


Quais são seus stakeholders
Qual a sua proposta de valor

Quais são os canais

Qual o tipo de relacionamento com o cliente
Como seu negócio gera valor
Quais os recursos exigidos
Quais as principais atividades para operacionalizar o negócio
Como está definida a rede de fornecedores
Quanto custo operar todo o negócio

Uma dica é o uso de post it como na imagem, pois é possível construir e descontruir seu modelo.

Bem, com tantas perguntas claro que o modelo se mostra mais complexo, mas é na forma de enxergar e responder as perguntas que está a simplicidade. Não é por menos que grandes empresas adotam o modelo Canvas. É o complexo transformado em simples e esse vídeo de 2 minutos mostra isso.

Se você gostou e quiser saber mais, segue o site http://www.businessmodelgeneration.com/




domingo, 24 de novembro de 2013

Se o Dado é o rei, quem é a rainha?

Meu post desta semana estava quase pronto quando abri um parênteses e fui a um bate-papo sobre web semântica com o prof.Marcos Mucheroni, da USP (1). O prof. Mucheroni é da área da Ciência da Computação e docente na Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.

Em função da ótima discussão na mesa de um café, não cheguei a alterar o título do post, mas enriqueci o tema com o conteúdo da conversa que criei na nuvem de tag a seguir.
  
 VIAF        DBPedia              Web 3.0     RDF          XML


LOD (Linking Open Data)   Datalização     


Selfie                                           ONIX             

                 Web semântica                           SPARQL
                  


Antecipando a resposta do título do post, a rainha é a busca e a busca caminha a passos largos em direção à Web Semântica que já vem sendo reconhecida como sendo a Web​ 3.0 com várias iniciativas bastante amadurecidas.

Mas, onde se concentra a complexidade da busca?

O segredo dos algoritmos


A busca está se transformando e será a protagonista da web semântica, conceito surgido em 1994, e vem unindo a informação a partir dos atributos que a definem. Os dados na Web serão totalmente estruturados e assim a tecnologia contribuirá criando os links e enriquecendo a experiência de busca em relação à quantidade e qualidade de resultados obtidos. 

O dado é o  elemento que acompanhará e descreverá o objeto de pesquisa e portanto a qualidade do dado é fundamental, mas a busca tem de ser igualmente inteligente e de seu resultado dependem uma interface de busca bem planejada e alinhada com a entrada de dados e os algoritmos utilizados que contribuirão com a inteligência do resultado. 

Veja o que acontece com o Google quando se pesquisa uma organização e ele traz em primeiro resultado o site da instituição. Isso é inteligência aplicada à busca. Os algoritmos determinam a ordem de resultados e por isso a lógica do resultado da busca do Google é um mistério. O que determina a sequência de resultados que ele oferece na primeira página e que faz com que a grande maioria não chegue na segunda página de resultado fazem parte da inteligência de seus algoritmos.

No mundo binário de 0 e 1, um algoritmo é uma sequência lógica, finita e definida de instruções que executam uma tarefa, como uma busca. A performance da busca depende basicamente dos algoritmos e esse é o grande diferencial do Google. É como o segredo da Coca-cola. Todos querem ter a fórmula. 

Por que a experiência no Google é sempre prazerosa? Porque o Google passa noite e dia alterando e sofisticando seus algoritmos para termos cada vez mais a sensação de que o sistema nos conhece e irá nos propiciar uma experiência única.

Quem conhece a história do Facebook e assistiu o filme "A Rede Social", sabe que a briga de Mark   Zuckerberg  com seus rivais foi e torno de algoritmos e são eles que modificam todos os dias nossa experiência na Web.


O momento da busca


Eu diria que saindo do Google e indo pesquisar em fontes de informação governamentais, portais de conteúdo e sistemas de informação proprietários, nossa experiência com a busca ainda é muito primitiva. Não evoluímos sequer para a busca 2.0. A grande maioria das interfaces de busca é incompleta, com baixa usabilidade, baixa valorização de conteúdos com descrição pobre de objetos e recursos informacionais.

Encontrar a informação desejada em um sistema de informação depende de alguns fatores que devem estar necessariamente reunidos: uma interface de busca inteligente, dados qualificados e suficientes, ferramenta de busca com algoritmos inteligentes e resultado de busca com possibilidade de ordenação e refinamento (busca sobre busca).

Fuja da busca cega! O que não pode deixar de ter em uma interface de busca:

  • algoritmos inteligentes (teste a busca e avalie seu resultado)
  • ajuda /exemplos (sempre!!)
  • índices (sugestão de autor, titulo, assunto)
  • pesquisa avançada (combinações mais sofisticadas)
  • filtro e refinamento (reduz e qualifica universo a ser buscado)
  • possibilidade de salvar pesquisas (ter pequisas prontas)
  • módulo para vocabulário controlado (permite criar termos relacionados, Contribui com a busca semântica)
  • possibilidade de alterar a forma de visualização de resultados (por data, por ordem alfabética, por asssunto...)
  • possibilidade de rankear o resultado (o voto é um indicador de preferência)
  • comentários (enriquecem o registro)
  • Adicionar tags (a folksonomia é a possibilidade de o usuário adicionar seus termos ao registro encontrado, criando significado para o resultado encontrado)


E a busca na Web 3.0?


Acabo de ler um post de Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, que exemplifica bem uma aplicação da Web Semântica.

Diz Janine Ribeiro: "Esta sexta compartilhei um link que, brincando com a peça de Nelson Rodrigues, dizia que toda nudez será, não castigada, mas instigada. Quando me levantei, estava deletado, com uma mensagem do Face. Claro que fiquei chocado com o falso moralismo desses senhores..."

Esse episódio exemplifica bem a confusão que pode ocorrer se o termo não for contextualizado. Se o Facebook tivesse uma ferramenta para cruzar a palavra Nudez com outros termos do post como Nelson Rodrigues ou o próprio autor do post, perceberia que o termo Nudez estava contextualizado a outro sentido e não tinha nenhuma conotação pornográfica. É exatamente isso que a Web Semântica pretende fazer. Quando você pesquisar Nudez deverá selecionar em qual contexto deseja obter os resultados e eles serão refinados de acordo com o seu perfil. Agora, o Facebook deletar o post apenas pelo fato de conter palavras supostamente pornográficas revela a distância que ele ainda está da Web 3.0.

Os termos que coloquei na nuvem de tag acima representam minimamente os assuntos que já estão em pauta no W3C (2) e no universo das bibliotecas em relação a padrões. Padrão é a palavra-chave do momento para perseguir o objetivo da busca semântica. É preciso muita mobilização, muitas convergências de interesses institucionais de todos os setores e muito trabalho de infraestrutura para que a nudez não seja castigada como no post do professor.

Para aqueles que quiserem conhecer um pouco mais a fundo sobre as iniciativas na Web 3.0:

VIAF -Virtual International Authority File, uma iniciativa da OCLC (3) para padronizar mundialmente as entradas de autoria em registros de bibliotecas. 


BBPedia - Projeto que pretende extrair conteúdo estruturado das informações da Wikipédia. A DBpédia é um dos exemplos mais famosos da iniciativa Linking Open Data (LOD) - ou Ligando Dados Abertos, - projeto relacionado aos princípios da Web Semântica.

W3C Brasil - Consórcio mundial sobre a Web que vem criando os padrões da Web Semântica que impactarão na busca muito em breve. Acompanhe a página do W3C Brasil sobre o assunto.

Peter Morville, já dizia no subtítulo de seu livro de 2005, "Ambient Findability: What We Find Changes Who We Become"....o que encontramos nos transforma (tradução livre).

Seremos muito impactados e a sociedade da informação se transformará mais uma vez com a chegada da web semântica, pois a qualidade e quantidade do que recuperaremos será infinitamente maior e mais pertinente. Como processaremos, como filtraremos, como leremos e o que faremos com tanta informação fica como perguntas para um dia respondermos.

Parodiando as tirinhas do Facebook : O que queremos? Web Semântica! Quando queremos: Agora!! Como queremos? Não sabemos! 

(1)  O encontro foi idealizado por Claudia Chamas, idealizadora e moderadora do grupo Gestão Documental e Serviços de Organização de Arquivos e Acervos 
(2) W3C - página oficial do W3C Mundial
(3) OCLC - Cooperativa mundia de Bibliotecas


Alguns posts anteriores e recentes que você pode ter perdido.





Gestão do conhecimento organizacional: é preciso fazer a lição de casa  



sábado, 16 de novembro de 2013

Um papo 2.0 sobre Platão e salsicha.


A não linearidade dos textos digitais proporcionada pelos hiperlinks produz uma experiência inédita na leitura e exige do leitor uma capacidade de foco e perfil de curador digital para conseguir filtrar conteúdos que se distanciem da superficialidade.


Lucia Santaella em seu livro “Cultura e Artes do Pós-Humano” (1), diz: "A velocidade digital cega-nos (Holtzmam 1997:169). Com uma tal rapidez de acesso é tão fácil saltar de uma página para a outra, quanto da primeira para a última(...). Em menos de um piscar de olhos, pode saltar-se de Platão para a salsicha, como diz Umberto Eco."

De fato, muitos leitores só conseguem enxergar a salsicha e acham que as redes sociais param por aí. Outros enxergam mais longe e conseguem se aprofundar em poemas do inicio de século XIX de Mário de Sá-Carneiro, passeiam por museus virtuais, leem obras raras em bibliotecas virtuais e alimentam-se de muitas informações valiosas além de construir novos amigos em relações que saem do computador e vão para uma mesa de bar ou até mesmo para uma lua de mel. Não são poucos os casos de casais que se conheceram nas redes sociais.


Motivos não faltam para amar Platão e odiar salsichas. Ao mesmo tempo em que estamos vivendo como se estivéssemos em uma UTI, completamente dependentes de aparelhos a nossa volta, ainda há pessoas que resistem ao computador e às redes sociais.  Muitos acreditam que é "tudo besteira" ou uma perda enorme de tempo.

Por ser exageradamente plugada e tecnológica, claro que sou suspeita ao falar, mas vou contar um episódio que me aconteceu e descrever um pouco como eu uso as redes sociais.

Há 3 anos quando estive de férias visitando minha mãe acessei várias vezes o Skype do computador dela. Com 72 anos na época, ela me abordou preocupada com a sua conta telefônica. Mas como você está falando e não está gastando nada, disse quando eu respondi para não se preocupar. Estou usando o Skype, você não conhece? Pronto, foi o momento certo para eu ensiná-la a usar e alguns dias depois  ela já tinha achado o irmão e a irmã que não via por foto há mais de 10 anos. Não precisa dizer que hoje ela não desgruda do Skype e a família está toda conectada. Às vezes esperar o momento certo e com jeitinho, sem que a pessoa perceba, você consegue quebrar uma barreira enorme.

No mínimo me intriga quando alguém jovem diz que o Facebook é uma perda de tempo, o Twitter nem pensar ou não ter sequer um nickname no skype e o currículo no Linkedin.

No caso do Twitter pode ser uma salsicha para muitos, mas gosto de contar o uso que faço dele, pois talvez o seu sucesso passe a fazer sentido. Não uso o twitter como forma de buscar pessoas que me sigam e sim como forma de seguir pessoas interessantes e descobrir quantas pessoas mais interessantes ainda ela segue para que eu possa segui-las também. Com isso, chego a  Buda ou algum guru dos gurus. É a teoria dos 6 graus de separação. Basta fazer uma boa curadoria digital e selecionar perfis com conteúdos relevantes que isso garantirá uma aceleração enorme em sua curva de aprendizagem coletiva. Temos grandes twitteiros e o Twitter promete crescer muito, pois acaba de abrir seu capital na bolsa de valores.

Você conhecem os contos de fada twitterianos (até 140 caracteres) no Youpix?  
Cinderela – Moçoila chega ao baile na beca. Só que à meia noite rola uma parada estranha: seus cavalos viram ratos e a carruagem, uma abóbora. Sinistro.
  
Pois é...essa foi uma brincadeirinha só para descontrair e explicar de um jeito bem humorado como são os textos do Twitter. Existem os platões, mas também existem as salsichas. Aprenda a fugir delas.

Veja na imagem abaixo um exemplo de quem eu sigo. O cientista Silvio Meira tem 163.201 seguidores e com um clique eu posso selecionar quem eu quero seguir também. Reparem nos Seguidores do Silvio Meira e no botão de Seguir. Basta clicar e os posts desses seguidores aparecerão em meu mural.  Silvio Meira escreve muito e é uma fonte de informação primária, mas também bebe de várias outras fontes, pois reparem que ele já twittou 8.447 posts.
No twitter não é necessária a aprovação prévia para ser seguido. O fato de estar no Twitter já caracteriza esse desejo.




A frase de Umberto Eco lembrou-me do sociólogo Zygmunt Bauman que em uma entrevista recente ironizou a frase de um amigo que dizia ter 500 amigos no Facebook. Como pode alguém ter tantos amigos, questionou Bauman. Não seria possível dar conta de tantas relações....

No Facebook gosto de curtir várias páginas e acompanhar os feeds de páginas que me mostram tudo que essas páginas publicaram. E claro, gosto muito de publicar conteúdos interessantes para os amigos reais e virtuais que tenho por lá.

Quando alguém me diz que o Facebook é uma perda de tempo, claro que concordo, mas é possível desviar das besteiras bloqueando as pessoas, não aceitando como amigo ou mesmo apenas lendo os feeds de páginas que você curtiu. Não é preciso ter amigos no Facebook, basta ter interesses e buscar os grupos e páginas com os quais você se identifica. Selecionando amigos e buscando conteúdos relevantes você descobrirá um outro Facebook.

Outro recurso que adoro é o Feedly, que utilizo como meu leitor de notícias. Tudo que me interessa crio uma categoria e salvo no Feedly. Assim, leio “meu jornal” todos os dias. Não preciso ir de site em site. Isso é ótimo e traz um ganho de produtividade enorme. Ensino essa prática em uma Oficina de um dia que ofereço ao mercado e está divulgada no site da empresa. 

O que faz com que alguns encontrem conteúdos sobre Platão e outros fiquem na salsicha? De fato existem aqueles que não estão procurando desenvolver seu conhecimento e sim se divertir um pouco. Aqueles que são céticos em relação às redes sociais,  não chegarão em meu post e não estão nesse mundo de possibilidades através da aprendizagem coletiva.

O mundo presencial leva ao virtual e o virtual nos leva de volta ao presencial. Esse deveria ser o equilíbrio desejado hoje, mas muitos não saem do presencial e muitos só ficam no virtual, criando extremos que  distorcem a realidade. Sim, a realidade está também no mundo virtual. Mas é preciso escolher entre Platão e salsicha e isso não é muito fácil e nem intuitivo. Requer cultura digital, conhecimento sobre fontes de informação, discernimento para lidar com os perfis falsos e notícias falsas, além de desenvolver um código de ética sobre como se comportar, o que postar e como configurar sua privacidade nesse ambiente. 

Como isso ninguém nos ensina, somos obrigados a conviver num mundo de distorções, exageros, ameaças e futilidade, mas querendo aprender mais sempre terá alguém por perto pronto para te ajudar. O que não dá para fazer é transformar as salsichas em desculpa e se alienar diante de tantas possibilidades.

Aguardo seus comentários para evoluirmos a discussão!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Escritórios jurídicos: particularidades na gestão da informação e do conhecimento

"​O conhecimento e a informação são os recursos estratégicos para o desenvolvimento de qualquer país. Os portadores desses recursos são as pessoas" Peter Drucker"

Tenho abordado em meus posts assuntos como dado, informação, conhecimento, tecnologias sociais e gestão, voltados para qualquer área do conhecimento, mas será que em todas as áreas se aplicam as mesmas metodologias e os mesmos fluxos documentais e informacionais? A resposta, claro, é NÃO. É incrível como cada empresa passa a ter um pouco da personalidade do dono misturada com a dinâmica de seu negócio e a cultura de seus funcionários. Mesmo estando no mesmo ramo de negócio, dois escritórios jurídicos nunca serão iguais em relação a seus fluxos documentais e informacionais. Há escritórios pequenos e  extremamente conectados ao mundo digital e grandes escritórios com dificuldade de darem os primeiros passos rumo ao "paperless" (1).
Ainda existem inúmeros escritórios que não possuem sequer um sistema de gestão documental e utilizam a rede do escritório e o Internet Explorer para estruturar seus arquivos e documentos. Como o caos e a ordem são parentes de primeiro grau, às vezes a sorte bate à porta e às vezes o caos impera e acaba não se encontrando um documento.
O ambiente jurídico tem inúmeras particularidades que tornam um projeto de gestão de informação e gestão do conhecimento um desafio maior. O escritório é uma empresa do conhecimento. Seus serviços prestados advém da inspiração e criatividade de sua banca de advogados, o que chamamos de conhecimento tácito e portanto de difícil captura.
 
Aestratégia da defesa também envolve muito a experiência e a inteligência emocional além da jurisprudência e domínio da área em questão. Habilidades de arguição e equilíbrio emocional não se aprendem lendo um livro. A vivência e a educação são fatores que contam muito nesse momento e dificilmente são transferidos de uma pessoa a outra.

No campo da gestão da informação posso exemplificar em ações do tipo padronização de nomenclatura de documentos, levantamento de tipologia de documentos, tabela de temporalidade, sistema de gestão eletrônica de documentos (GED), vocabulário ou lista controlada de termos, dentre outros.

Já no campo da Gestão do Conhecimento as melhores práticas do escritório podem ser tratadas de forma diferenciada, Quem é Quem para conhecer o perfil do advogado e melhor aproveitar sua banca para projetos específicos, momentos e locais informais para compartilhamento e conversas (coffeelaw), Gestão de relacionamento com o cliente - CRM (2), dentre outros.

Assim, dois grandes desafios passam a ser estruturar e sistematizar a informação e documentação não estruturada aplicando técnicas de gestão da informação e desenvolver práticas, metodologias e ferramentas de Gestão de Conhecimento para que o escritório possa começar a compartilhar e reutilizar informação de valor.
  
Tecnologia e Processos são fundamentais, mas se a base não estiver sólida, se as pessoas não estiverem capacitadas e envolvidas e se não houver procedimentos, práticas e metodologia de gestão da informação e gestão do conhecimento, no mínimo a perda de tempo será enorme.

Nos EUA diversos escritórios têm um profissional chamado Knowledge Worker, ou   Knowledge Manager, numa tradução livre seria o gestor do conhecimento. No Brasil vemos o profissional de Biblioteconomia e Ciência da Informação assumindo esse papel, pois como ele é o responsável pela Biblioteca e Arquivo, naturalmente acaba assumindo essa função.

A gestão do Conhecimento é uma consequência de processos bem mapeados, informação tratada com qualidade, tecnologia adequada e cultura propícia a suas práticas. Não é tarefa simples, mas os benefícios e o ganho de produtividade são enormes. 

Por onde começar? Sem dúvida alguma pela organização de documentos, cujos dados tratados com qualidades permitirão a obtenção da informação e a geração do conhecimento.

Leia também o post sobre Gestão do Conhecimento Organizacional  


(1) Paperless​ – diminuição de papel

(2) CRM - Customer Relationship Management 


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A Inovação na Gestão da Informação

Nos dias 29 e 30 de outubro de 2013 aconteceu em SP o Fórum Executivo SBGC (1) que teve em seu tema central a pergunta: como transformar conhecimento em vantagem competitiva?

Tivemos apresentações de empresas como BrasilKirim, Petrobrás, Sebrae, Ecopetrol, Vale S.A e outras.
De todos os conteúdos apresentados, ficou claro que o maior desafio está nas pessoas, na gestão de pessoas e na combinação de competências pessoais e profissionais capazes de promover a sinergia necessária na organização para estruturar suas informações de forma a utilizá-las como vantagem competitiva e alinhamento estratégico.

Um excelente exemplo foi o caso do Sebrae Nacional, brilhantemente apresentado pelo bibliotecário coordenador Geraldo Magela. O Sebrae comprou a ferramenta de busca do Google, mas desenvolveu um vocabulário controlado para suas unidades de negócios e acoplou a inteligência do vocabulário no dicionário do Google. Com isso resolveu um dos problema que a web semântica vem tentando resolver que é o controle de sinonímia. Ao pesquisar educação a distância é possível recuperar também curso on line por serem sinônimos identificados através de um vocabulário controlado chamado Thesaurus (2). Esse exemplo mostra a importância da gestão da informação na gestão do conhecimento. Há uma perda significativa na busca quando sistemas de informação não tratam seus termos de forma relacionada. Esse trabalho é intelectual e exaustivo. Não basta comprar o Google, instalar em seu servidor e achar que a ferramenta passará a encontrar "tudo". Uma experiência é encontrar tudo sobre a palavra que se busca e outra experiência é encontrar a informação relevante sobre o tema que se deseja pesquisar. O exemplo acima citado prova isso. Pesquisar os conceitos de Precisão e Revocação ajuda a entender essa diferença.  Segundo Lancaster (3), Revocação é a capacidade de recuperar documentos úteis e Precisão é a capacidade de evitar documentos inúteis. O tratamento da informação conduz um sistema de informação para o caminho da precisão.

Outro desafio que fica claro é a gestão da informação não-estruturada. Aquela que se encontra nas pessoas, nas redes sociais, nos emails e são difíceis de serem estruturadas a partir de dados em um sistema de informação. Um email trata de vários assuntos e ainda contém anexos. Já o conhecimento tácito necessita de metodologias e sistematização para ser minimamente estruturado. Exemplos de metodologias são entrevistas, depoimentos, vídeos ou outros recursos que permitam inserir o conteúdo extraído em uma base de dados. Muito conhecimento está depositado em dicas de posts nas redes sociais. Como fazer para registrar e se apropriar desse conhecimento? 

Durante o evento tive o prazer de conhecer uma atriz que trabalha na Biolab com storytelling (4). A Danielle Salibian tem uma missão bastante inovadora como não poderia deixar de ser na Biolab, empresa que tem a inovação em seu DNA. A partir de suas competências como atriz a Danielle passa a ser uma facilitadora para interagir com os pesquisadores e buscar estruturar seus conhecimentos. Não é por coincidência que ela atua na área de informação. Muito interessante! Já tinha visto uma empresa de Engenharia utilizar atores em suas reuniões de diretoria, mas uma atriz com esse papel em uma organização creio ser uma tendência inovadora. Para conhecer um pouquinho mais sobre o tema tem um artigo recente na mídia bastante esclarecedor. http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2013/10/30/storytelling-um-jeito-divertido-de-treinar/

Vejam quantas competências novas estão surgindo. Muito difícil ficar em uma carreira linear em tempos de inovação e o caminho é um só: da informação não estruturada para dados formatados em uma base de dados e daí para a rede de informação estruturada compartilhada. 


A gestão do conhecimento não necessita estar em uma área ou em uma pessoa e sim na cultura, na estratégia e no alinhamento das ações voltadas ao mercado, produtos, serviços e inovação da organização.


Compreender qual é a informação necessária para a organização, saber onde buscá-la e como estruturá-la, são alguns dos desafios e competências necessárias além da gestão de pessoas e principalmente de talentos.


Era da Informação, Era da Economia da Informação, Era da Informação Extrema, Era da Sociedade Digital ou Era do Conhecimento...não importa o nome que se dê. Queiramos ou não, estamos todos nessa era e Conhecimento é o que todos buscam, concordam?


E ao pensar em uma imagem para esse post, me veio à mente o Cirque du Soleil. Como eles inovaram no conceito de circo buscando um nicho que não existia e criando um espetáculo admirado por todos. Ultrapassaram fronteiras culturais, religiosas, sociais, físicas...e criaram uma organização forte baseada na diversidade, em múltiplas competências e na inovação. Fica a inspiração!



(2) Thesaurus – Vocabulário Controlado de termos relacionados entre si.
(3) Lancaster - LANCASTER, F. W. Princípios da indexação. Indexação e resumos: teoria e prática. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos, 2004.
(4) Storytelling - Técnica que consiste em representar os conhecimentos em formato de história para transmitir em um novo conhecimento.